Fonte: CSB - Imagem: Felipe Lima |
A economia brasileira está no fundo do poço há mais de três anos, sem grandes sinais de recuperação. Venderam uma suposta reforma trabalhista que geraria milhões e milhões de empregos, pois facilitaria a vida dos empreendedores. Os eleitores escolheram um presidente da República que afirma, entre outras coisas, que o trabalhador precisa escolher entre direitos ou emprego, e que é muito difícil ser patrão no Brasil.
“Paralelamente, presenciamos uma forte e intensa pressão para o desmantelamento do sindicalismo brasileiro, apontado por “progressistas” como Paulo Guedes, ministro da Economia, e Rogério Marinho, secretário especial de Previdência e Trabalho, como uma trava para a fluidez da ação do mercado e um empecilho para a efetivação das reformas inadiáveis, como a proposta de corte nos direitos previdenciários.”
Que ironia: Lawrence Summers, secretário do Tesouro americano no governo Bill Clinton, destacou que o fato de a economia norte-americana não deslanchar mesmo diante do baixíssimo desemprego é um reflexo da precarização da mão de obra e da queda da remuneração dos trabalhadores. Segundo ele, o poder de pressão dos empresários está muito acima da força de resistência dos trabalhadores. Por isso, o economista sentenciou em artigo no Financial Times: “A América precisa mais que nunca de seus sindicatos”.
Por aqui, as coisas caminham na contramão!
Depois de a reforma trabalhista açoitar os direitos, aprofundar a informalidade no mercado de trabalho, precarizar muitas ocupações, fechar centenas de sindicatos Brasil afora; depois da afronta à Constituição com a MP 873/2019, que quer fechar os que sobraram; depois de insistir na reforma da Previdência, o secretário Marinho, sob os aplausos de Bolsonaro, Guedes e dos patrões, afirmou que a reforma trabalhista só estaria completa com a introdução da pluralidade sindical, permitindo a criação infinita de sindicatos para gerar “competitividade” entre eles. Sim, isso mesmo, competitividade entre sindicatos.
Mas a proliferação de sindicatos não era um problema? O Brasil não tinha muitos sindicatos? Para quem não está familiarizado, parece difícil de entender. Há dezenas de outros argumentos para mostrar como a pluralidade representaria o aniquilamento do movimento sindical brasileiro, mas creio ser dispensável apresentá-los diante da defesa oposta feita por Bolsonaro, Guedes e Marinho. Basta dizer que o pluralismo vai matar de vez toda a estrutura que poderá resistir ao desmantelamento total dos direitos.
Espero que alguns colegas do ativismo trabalhista, jurídico ou sindical, coloquem a pulga atrás da orelha de uma vez por todas ao defender o pluralismo, ou seja, a mesma proposta de Bolsonaro, Guedes e Marinho. O problema desse abraço é que o afogado será o trabalhador e seus direitos.
*Antonio Neto é presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)
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